As Rainhas Plebéias: Elizabeth Woodville e Ana Bolena

Elizabeth Woodville – Rebecca Ferguson (The White Queen)

‘É de recordar ter sido Elizabeth Woodville a mulher que Eduardo IV ergueu ao trono. Simples súdita, embora filha de fidalgos, às solicitações daquele príncipe opusera esta briosa resposta: ‘Sou de mui nobre estirpe para ser vossa amante, e minha nobreza não chega para ser vossa esposa.’

(LORENZ, 1959)

A rainha consorte de Eduardo IV, Elizabeth Woodville, avó de Henrique VIII, foi a primeira plebéia (Ana Bolena foi a segunda) a se tornar rainha consorte da Inglaterra. Para muitos, Elizabeth Woodville foi a original Ana Bolena. A viúva disse ao rei que não iria se submeter sexualmente sem antes se casar e, por consequência, tornar-se Rainha da Inglaterra. Esta rainha foi impopular e orgulhosa,  mas sua dinastia viveria para sempre, pois através de sua filha, Elizabeth de York, a grande Dinastia Tudor seria formada e o sangue de Elizabeth Woodville correria nas veias de muitos grandes monarcas. Ana Bolena, rainha consorte de Henrique VIII, teve uma história parecida, também sendo eternizada através de sua filha, Elizabeth I, cujo reinado seria conhecido como ‘A Era de Ouro’ da Inglaterra.

Uma lenda diz que Elizabeth ouviu que o rei estava caçando em na Floresta de Whittelwood, e ela esperou debaixo de uma árvore com seus dois filhos do seu primeiro casamento. Após a morte de seu marido, Elizabeth se viu em uma situação financeira difícil e, por isso, seu objetivo era pedir ajuda ao rei. Quando ele passou, Elizabeth se jogou aos seus pés e o rei se apaixonou por ela embora, no começo, ele não pretendesse casar-se com ela, e sim fazer dela uma amante. Eduardo estava tão cativado por Elizabeth que se casou com a viúva, o que irritou muito o Conde de Warwick, que estava planejando um casamento francês para o jovem rei. Eduardo e Elizabeth casaram-se secretamente em 1 de maio de 1464, e Elizabeth foi coroada rainha da Inglaterra em 26 de maio de 1465.

Ana Bolena - Natalie Porman (The Other Boleyn Girl)Elizabeth, assim como Ana, era muito dedicada a aumentar o poder de sua família, certificando que eles tivessem casamentos importantes. Ambos os casamentos também foram cheios de legalidade duvidosa. Na época, foi relatado que o Conselho Real estava buscando maneiras de anular o casamento de Elizabeth. A legitimidade do casamento de Ana e Henrique sempre foi questionado. A necessidade de dar credibilidade a um casamento não convencional explica a importância que Henrique e Eduardo colocaram na coroação de suas consortes. Os reis tinham escolhido mulheres comum que seriam feitas rainhas. Uma vez que Eduardo IV deixou seu casamento público, os preparativos dariam a Elizabeth uma coroação extremamente impressionante, envolvendo enormes despesas e incluíam o convite para seus parentes nobres que estivessem no estrangeiro. Henrique VIII agiu da mesma forma com Ana Bolena, exigindo que cada pessoa notável na Inglaterra prestasse homenagens a sua nova esposa.

Para muitos de seus contemporâneos, era impensável que o rei tivesse escolhido livremente casar-se com uma mulher tão abaixo dele, e havia rumores de bruxaria e sedução que prejudicariam a reputação de Elizabeth, tanto durante sua vida quanto depois. Detratores de Elizabeth eram simplesmente incapazes de acreditar que o casal poderia ter sido motivado apenas pelo amor. Elizabeth Woodville também foi acusada de bruxaria por seus contemporâneos. Como bem sabemos, Henrique VIII afirmou ter sido ‘enfeitiçado’ por Ana Bolena. O rei mais tarde encontraria na bruxaria uma explicação de por que ele virou as costas para Catarina de Aragão para se casar com Ana. Uma outra fraqueza do casamento baseado em sentimentos dos monarcas foi a possibilidade de desafio. A consorte convencional poderia ser ameaçada com rivais na cama, e não no trono. Mas onde uma mulher havia conseguido ‘encantar’ um rei, outra não poderia fazer o mesmo? Nesse ponto, Elizabeth Woodville teve sorte. Os casos de Eduardo nunca ameaçaram o seu estado, uma vez que ele se desfazia de suas amantes tão rapidamente quanto tinha gostado delas. Mas as esposas de Henrique VIII sempre eram vulneráveis a outra mulher, pois poderiam seguir o mesmo caminho que sua predecessora havia trilhado. Afinal, Ana Bolena fora dama de companhia de Catarina de Aragão, Jane Seymour foi dama de companhia de Ana Bolena e Catarina Howard fora dama de companhia de Ana de Cleves.

Embora suas mulheres fossem parecidas, Eduardo VI e Henrique VIII tiveram casamentos completamente diferentes. Eduardo e sua esposa desfrutaram de uma vida íntima muito ativa, com a rainha tendo tido dez filhos em dezesseis anos de casamento, o último com a idade de quarenta e três anos. Elizabeth estava apaixonada o suficiente para ver as amantes de seu marido como uma afronta pessoal, mas, assim como Catarina de Aragão, Elizabeth soube contornar as situações quantas vezes foram necessárias, e o rei sempre voltava para ela no final. Como se bem sabe, Henrique VIII e Ana foram casados por apenas três anos, tiveram apenas uma filha que sobreviveria a infância e Ana acabou por ser executada. Eric Bana como Henrique VIII e Natalie Portman como Ana Bolena, em The Other Boleyn GirlPor razões não esclarecidas, Elizabeth Woodville foi enviada para Abadia de Bermondsey em seus anos finais. Ela morreria em 8 de junho de 1492.

Ambas as mulheres têm coisas em comum – foram incompreendidas e caluniadas no seu tempo, pois sua beleza e inteligência se fizeram notar por homens poderosos. O exemplo de Elizabeth Woodville e Ana Bolena prova que um homem apaixonado pode arriscar tudo só para ter a mulher que queria. Em tempos em que os reis se casavam pela política, Eduardo IV e Henrique VIII se casaram por amor, instalando o caos no país. E então os rumores começaram – mas não sobre o comportamento do rei, e sim contra a mulher que os havia ‘encantado’. As acusações de bruxaria foram uma maneira muito conveniente de acusar uma mulher real – de que outra forma se explicaria que o rei se casou com uma mulher simples, esquecendo-se da política, das consequências e do senso comum?

Bibliografia:
¹ LORENZ, PAUl. A Rainha sem Cabeça. Editora ‘O século’, 1959.
IVES, Eric. ‘Marrying for Love: The Experience of Edward IV and Henry VIII‘. Acess: 30 mai 2013.
POSNEY, Kayla. ‘Historical Profile: Elizabeth Woodville‘. Acess: 30 mai 2013.

25 comentários sobre “As Rainhas Plebéias: Elizabeth Woodville e Ana Bolena

  1. Perfeito <3 e realmente é semelhante e não por acaso que nos encantamos por tudo escrito e filmado sobre elas rs. Então.. isso que não entendo.. se elas eram plebéias mesmo… eram chamadas de rainhas e coroadas pq?? Eu li q a Kate nunca poderá ser chamada de rainha.. e não entendo isso hunffff :(. Fico feliz de não ter aceitado o pedido de casamento do William… jamais aceitaria não ser rainha ;).

  2. Não entendo o que você não entende, Dani. Ela foi escolhida pelo rei, era sua consorte e foi coroada. Ela era rainha e não tinha porque não ser chamada desse jeito. Eu não li nada acerca de Kate sobre ela não poder ser chamada de Rainha. Se William fosse regente, não sei de nada que impediria ela de ser rainha consorte. Mara, eu não esqueci delas, só que elas foram as terceiras, quartas, quintas e sextas rainhas plebéias, sendo que neste artigo eu preferi tratar apenas da segunda rainha plebéia, Ana Bolena, e as suas semelhanças com a primeira rainha plebéia, Elizabeth Woodville =]

  3. Acho interessante o fato de que as duas foram as mães da grande Dinastia Tudor, mas ainda fica meio duvidoso falar que Henrique casou por amor..Edward teve as filhas primeiro, ouviu sobre as bruxarias e nem por isso deixou de amar e ser casado com Elizabeth, agora Henrique…meu Deus! Pobre Ana Bolena e seu pescoço! Isso foi amor? Eu quero crer que sim, porque da união deles surgiu Elizabeth I…e o resto já sabemos…mas eu sempre me pergunto, será que algum dia, Henrique se arrependeu do que fez? (como parece mostrar no ultimo episódio de The Tudors) e será que algum dia Ana Bolena pensou que poderia ter agido melhor? (menos impulsiva)…todos referem que Jane Seymour foi o verdadeiro amor de Henrique, tanto que ele foi enterrado ao lado dela, mas não creio muito nisso…a sorte de Elizabeth era a mentalidade de Edward e ela ser fértil…o que foi o azar de Ana Bolena, vendo os no White Queen, não dá pra acreditar que Henrique VIII era tão fechado e cabeça dura, mas tudo é questão de personalidade e saber lidar, coisa que Ana Bolena não fez, infelizmente…

  4. Em minha opinião< Henrique só queria ter um filho. Se ele tivesse conseguido com Catarina de Aragão, teria somente amantes. Nesse caso a Inglaterra não teria permitido o protestantismo, como ocorreu na França, e o Império Britânico não teria espalhado o Evangelho pelo mundo.

  5. Concordo plenamente, ajverderamo. A primeira vez que conheci a história de Ana Bolena (através dos livros da Philippa Gregory), realmente me pareceu encantadora, um rei disposto a romper com a maior potência política da época, por amor. Porém, não podemos esquecer o fato “herdeiro legítimo” estava em jogo, e ao julgar pelos seus atos póstumos, Henrique certamente não era um homem terno e romântico! E o que seria de Jane Seymour sem seu filho Edward? Será que não teria o mesmo fim de Ana Bolena?
    Ao entrar no universo dos livros, a imagem passada de Henrique VIII era de um homem se reafirmando no seu governo Absolutista, não tendo nada a perder em suas escolhas. A ideia de que o homem estava a beira da loucura, se da pelo horror de seus atos, se agravando com o tempo. Mas não concordo com essa ideia, o fato do menino “Harry” não ter estudado ou sido preparado psicologicamente para ser rei, é matador nesta questão, na minha opinião.
    Realmente, as vezes nos deixamos cair nas hipóteses e estórias que esquecemos dos fatos e que pouco sabemos sobre a verdade.

  6. Bem nem tão plebéias assim … Ambas vinham de famílias com títulos inferiores , as mães de ambas foram aias de companhia de rainhas consortes

      • Como no próprio texto fala, elas foram acusadas de bruxaria depois por terem conseguido um casamento por amor, quis falar que no mundo, a mulher sempre leva a culpa por conta do machismo.

        • Ah sim. Mas essa era uma acusação super comum na Idade Média e no Renascimento, principalmente quando uma mulher sem grandes status conquistava um homem mais rico do que ela sem a ajuda de sua família. A mesma acusação foi feita contra Ana Bolena :)

  7. “He promised her that he would give her everything, everything she wanted, as men in love always do. And she trusted him despite herself, as women in love always do.”
    ― Philippa Gregory, The White Queen

  8. Incrível post…. e de fato logo essas duas foram acusadas de bruxaria….e coitadinho dos reis indefesos que caíram na lábia (e no corpo) delas kkkk

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