O casamento de Henrique VIII e Catarina Parr foi consumado?

‘Henrique já não procurava excitação, nem sexual nem outra. O que queria era uma companheira calma e sensata – alguém que pudesse acalmar os seus cada vez mais frequentes ataques de mau gênio, acalmar as dores dos seu vários padecimentos e obedecer-lhe sem o questionar.’

(LOADES, 2010, pág. 149)

Muitos foram os rumores sobre a impotência do rei durante seu casamento com Ana de Cleves. Apesar disso, Henrique contou a seu médico, William Butts, que tinha tido ‘duas polutiones nocturnas in somno’, ou seja, duas ejaculações noturnas, e que ele acreditava ‘ser capaz de praticar o ato com outras mas não com ela’. Após seu divórcio com Ana de Cleves e o fim do seu casamento com Catarina Howard, o rei finalmente se casaria pela sexta e última vez.

Catarina Parr, ao trinta e um anos, tinha sido viúva duas vezes, e era uma madrasta experiente. No entanto, o rei de cinquenta e dois anos estava à procura de uma esposa, não uma enfermeira ou dona de casa. Henrique queria uma companheira para sua cama, que poderia lhe fornecer herdeiros e poderia encarar o papel de rainha Consorte.

Após seu casamento, Catarina se mudou para um pequeno quarto ao lado do rei, deixando seus aposentos de rainha ‘e salientando o fato de que se deve partir do pressuposto de que muitos homens que estejam na sexta esposa devem precisar de uma enfermeira’. Durante o sexto casamento, as referências a um provável ‘Duque de York’ desapareceram; no entanto, as cortinas em volta da cama do casamento de Henrique VIII e sua última esposa permanecem firmemente fechadas

De acordo com a autora Linda Porter, ‘tratava-se, sem dúvida, de uma relação sexual’. Para Robert Hutchinson, Catarina ‘tão pouco esqueceu as suas outras responsabilidades’: alguns dos primeiros artigos encomendados depois do casamento foram dez metros de ‘damasco negro para um vestido de noite”, e ‘para fazer um vestido de noite de cetim negro com duas mangas borgonhesas bordadas e bordejadas a veludo’. Susan E. James acredita que ‘embora ocasionalmente impotente, o rei consumou seu casamento’.  Em 13 de Julho, Catarina encomendou perfumes para o seu quarto de dormir em Hampton Court ao boticário da corte. A rainha também tomava banhos de leite para manter sua pele macia. Ela claramente estava determinada a deixar seu corpo e quarto tão atraentes quanto possível.

Após seu desastroso casamento com Catarina Howard, Parr reconhecia a necessidade do rei amor e atenção. Henrique e Catarina compartilhavam de muitos interesses, como caça, tiro com arco, mascaradas e livros.  Ela costumava colocar a perna ferida do rei em seu colo, ou ela mesma sentava no colo do rei. O rei gostava da dança de Catarina e os dois amavam música; eles também trocaram muitos presentes.

Apesar de não termos nenhuma resposta exata se o casamento de Henrique e Catarina foi ou não consumado, o fato é que o próprio Henrique não descartou a possibilidade de ter filhos com sua sexta esposa. No Ato de Sucessão de 1544, ele  situa os filhos que pudessem ser gerados por ele e Catarina logo depois do príncipe Eduardo na linha de sucessão, e antes de Maria e Elizabeth.

‘E pelo grande amor, obediência, castidade de vida e sabedoria existentes em nossa esposa e rainha Catarina, legamos a ela três mil libras de prata, jóias, e os trajes que lhe agrade guardar entre os que já possuímos…

E na falta de prole legítima de nosso filho príncipe Eduardo, determinamos que, após a morte de nós ambos, a dita coroa imperial deverá ser plenamente transferida aos herdeiros de nossa esposa muito amada, Catarina, que agora existe’.

Bibliografia:

LOADES, David. As Rainhas Tudor – o poder no feminino em Inglaterra (séculos XV – XVII). Tradução de Paulo Mendes. Portugal: Caleidoscópio, 2010.
HUTCHINSON, Robert. ‘Os últimos dias de Henrique VIII’. Tradução de Gonçalo Praça. Portugal: Casa das Letras, 2010.
FRASER, Antonia. As Seis Mulheres de Henrique VIII. Tradução de Luiz Carlos do Nascimento e Silva – 2º Edição – Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.
GEORGE, Margaret. Autobiografia de Henrique VIII. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
JAMES, E. Susan. ‘Katharine Parr‘. Acesso em 16 de Fevereiro de 2014.
PORTER, Linda. ‘A love match?‘. Acesso em 16 de Fevereiro de 2014.