Diário, 16 de Maio de 1536

 meu amigo arcebispo Cranmer veio visitar-me. Por um instante pensei que viesse trazer-me o perdão do rei – talvez o meu desterro para um convento distante. Mas o único alívio trazido por Cranmer é a morte indolor. Não serei queimada, pois o rei assim o dispôs. Pobre Cranmer… magro como uma espada, o nariz afilado e os olhos apagados pelo sofrimento. Cheirava a incenso como se tivesse estado a rezar longas horas na capela cheia de fumo. Porém a sua voz era forte e firme quando me saudou, conseguindo mesmo esboçar um sorriso. Porém, tinha pouco tempo e passou a informar-me da missão de que o secretário Cromwell o encarregara.
– O rei e Cromwell estão informados das minhas disposições
– disse. – Escrevi a Sua Majestade após a vossa prisão, dizendo nunca ter tido melhor opinião de outra mulher e que logo a seguir ao rei éreis a criatura por quem mais estima sinto.
– Haveis escrito isso ao rei?
– Claro que sim. Trata-se da verdade.
– Haveis sido muito corajoso, Thomas.
– O rei está decidido a contrair novo casamento, Ana – disse, aclarando a garganta. – Não quer que haja qualquer impedimento. Além do mais exige que Elizabeth… seja considerada bastarda.
Estremeci ao ouvir tão terríveis palavras. Tudo o que fizera em prol de minha filha, tinha sido em vão.
– Não lhe basta a minha morte?
– Uns dias antes do vosso julgamento, tentou obrigar pela força Henry Percy a assinar um documento afirmando o pré-contrato de matrimónio que ambos havíeis feito. Percy estava muito fraco e doente, mas recusou. Agora o rei exige que sejais vós a fornecer-lhe prova de que o casamento com ele é nulo e inválido.
– Quer que eu lhe forneça a prova?
– Sim. Podeis contradizer lorde Northumberland e afirmar que ele fez convosco o pré-contrato, ou podeis informar o rei do seu próprio caso com vossa irmã, o que o colocará num grau de afinidade demasiado próximo para vos poder desposar.
– Então o rei deseja ser informado por mim de que fornicou com Maria…
– Não me peçais que vos explique as estranhas ideias de Henrique. Sabeis que é impossível.
Porém o meu espírito animara-se já com novas possibilidades.
– Se nunca fomos casados, Cranmer, então nunca fui rainha, não será assim?
– Sim.
– E o adultério, noutra que não a rainha, não poderá ser considerado traição.
– Vejo os caminhos do vosso raciocínio, senhora – disse hesitando na escolha das palavras. – Mas, infelizmente, não é desejo do rei manter-vos viva. Apenas deseja que Elizabeth seja considerada ilegítima.
– Dizei-me. Este plano terá sido delineado por Cromwell?
– Exatamente. Segui-lhe a pista até aos encontros com o embaixador Chapuys, destinados a conseguir uma aliança imperial. Lembrais-vos de que quando as negociações falharam, Cromwell recolheu ao leito durante cinco dias, alegando uma indisposição? Julgo que deve ter ficado deitado a preparar este esquema, e agora emergiu do casulo qual borboleta malévola abrindo as suas asas sobre a presa. A presa sois vós, senhora. Reuniu os vosso inimigos, todos eles espiões dentro de vossa casa, para testemunharem contra vós. Mandou chamar Mark Smeaton à sua residência de Throgsneck Street, com o pretexto de que o pobre rapaz tocasse para ele. Obteve a sua confissão sob tortura.
– Já imaginava. Mas porquê? Porque o fez Cromwell? Não foi ele que torceu e retorceu a lei inglesa e o raciocínio humano, para tornar possível o meu casamento com Henrique?
– Haveis esquecido de que é uma borboleta que segue para onde o vento sopra?
– Sim, e há apenas um vento em Inglaterra – disse eu, com amargura. – Chama-se Henrique.
– Recordai que Cromwell chegou a falar com todo o fervor em prol da aliança imperial mas, quando o rei se mostrou contra, o secretário apercebeu-se que tinha escolhido mal. Para agradar a Henrique, havia apenas uma coisa que lhe poderia oferecer: um novo casamento com Jane Seymour. Um casamento sem impedimentos.
– Mas será que Henrique deseja seriamente ver-me morta? Chegou a amar-me muito, Cranmer. Do fundo do coração. Bem sabeis o que fez para que eu fosse sua.
– E vós senhora, bem sabeis que com um homem como Henrique o pêndulo da paixão balança de um lado para o outro. Receio…- fez uma pausa, pois as palavras eram demasiado difíceis para as pronunciar. – Receio que se não lhe deres o que deseja, as coisas não correrão bem para Elizabeth.
Senti o sangue gelar-me nas veias e estremeci.
– Também a matará?
– O rei Henrique é capaz de grandes crueldades e, se lhe convier, o assassínio da própria filha não será inconcebível. Ele ou o seu incubo Cromwell arranjarão um pretexto, tal como fizeram convosco. Sois uma bruxa, de modo que vossa filha também o é. Ou talvez que, sendo bastarda, as suas perspectivas de casamento sejam poucas e a menina se converta numa peça desnecessária, até mesmo incómoda. Tudo é possível, pois o rei está louco.
– O que dizeis é traição, arcebispo.
– Se a verdade é traição, então a vossa acusação é justa.
– Eu fui condenada por uma mentira.
– Todos o sabemos, senhora.
Não sendo capaz de me fitar, por vergonha, olhou pela janela para Tower Green. Porém, quando os seus olhos se fixaram no exterior e o vi apertar os dentes, aproximei-me para saber para onde olhava tão interessado. Vários pares de trabalhadores traziam tábuas de madeira para o centro da relva e empilhavam-nas ao lado do cadafalso onde morrera Thomas More.
– Perguntais se o rei já não sente amor por vós. Julgo que alguma centelha terá restado nesse archote que ardeu com tanta violência. Mandou vir de Calais o melhor carrasco do continente, para a vossa execução… para que seja levada a cabo com toda a facilidade.
Ao ouvir tais palavras senti-me inundada por uma onda de medo, porém logo a seguir acalmei-me e consegui dar mostras de alguma ironia:
– Ah, já tinha ouvido dizer que os carrascos de Calais são muito bons. E o meu pescoço é fino. Deve ser uma ocasião muito elegante.
– Oh, Majestade! – Cranmer caiu de joelhos diante de mim, tomou-me as mãos nas suas e beijou-as, chorando amargamente. – Então, meu amigo, não choreis por mim. Penso que este fim que agora tão injusto e cruel nos parece, faz parte dos planos divinos que não podemos entender, mas que são certamente perfeitos.
Disse-o para lhe apaziguar o espírito, pois não era exactamente o que sentia no coração. Algum tempo depois, limpou as lágrimas e ajudei-o a erguer-se.
– Sinto-me envergonhado que sejais vós a consolar-me, quando seria meu dever trazer-vos conforto.- Não importa. Trazei-me uma pena e pergaminho e escreverei o documento que Henrique deseja.
Quando Cranmer me entregou estes objetos, sentei-me e escrevi uma confissão, afirmando que, de fato, houvera um pré-contrato entre mim e Henry Percy e que, entre mim e o rei, havia um parentesco por afinidade, devido à anterior relação deste com minha irmã. Também acrescentei que o tinha enfeitiçado e que não o considerava ligado a mim por esses falsos laços de matrimônio. Garanti-lhe que nossa filha era ilegítima e assinei por fim “Ana, marquesa de Pembroke”. Enquanto secava a tinta, com todo o cuidado, para que não pudesse haver qualquer dúvida ou erro nas minhas declarações, perguntei a Cranmer o que seria dele.
– Suponho estar a salvo. Certos membros do Conselho Privado chamaram-me para me advertir de que o meu dever era admitir aparentemente a vossa culpa. Lorde Sussex tratou de me recordar da nossa antiga profecia: ”Serão queimados dois ou três bispos e uma rainha.”
– Como se fosse preciso recordar-vos que podereis cair comigo. Cranmer fechou os olhos e deitou a cabeça para trás, com os lábios apertados numa expressão de tristeza.
– Abandonei-vos, Majestade. Mas, por favor, crede que não foi por covardia. Estavas já perdida e o meu apoio nesse momento de nada valeria. Devo sobreviver para continuar a obra da Nova Igreja.
– Bem sei, Cranmer, haveis agido bem. Vou rezar até ao meu último suspiro para que a Igreja de Inglaterra não mais volte a cair sob o jugo de Roma – olhou-me com um ar indescritivelmente triste. – Alguma vez voltareis a ver vossa esposa holandesa? – perguntei.
– Julgo que não. Esse casamento foi um ato irrefletido.
– Mas Cranmer, haveis casado por amor. É muito raro, mas nunca irrefletido. Talvez quando Henrique se cansar dos vossos serviços possais viajar de novo até à Holanda para a voltar a ver. – Ele soltou uma pequena gargalhada e a seguir sorriu.
– Sim. Talvez. Obrigado, Majestade, por pensardes em mim num momento tão difícil para vós. Juro que não conheço ninguém tão bondoso.
A seguir o bom padre escutou-me pela última vez em confissão e deu-me uma suave penitência pelos meus pecados. Era tempo de se retirar. Enrolou o maldito documento, meteu-o numa bolsa e disse-me que não me aconselharia a ter coragem, pois já tinha mais do que ele alguma vez pensara possuir. Despediu-se então e disse que rezaria por mim com toda a sua alma. Beijei-o e deixei-o ir.
Senti envolver-me uma estranha felicidade, como se me tivessem coberto os ombros com um xale quente. A presença daquele homem fora um belo presente de Henrique e dera-me a conhecer que eu tinha feito o melhor possível para proteger a minha doce e inocente filha.

Afetuosamente,
Ana

Diário, 15 de Maio de 1536

 meu destino transformou-se num pesadelo atroz. Vou morrer acusada de enganar Henrique, condenada pelos meus pares, devido a uma abominável mentira. Apenas uma mentira. O meu esposo, meu amigo e amante de dez anos vai assassinar-me publicamente a sangue-frio… e ninguém porá objecções. Como pode ser? Como chegaram as coisas ao ponto de todos os lordes ingleses terem abraçado o mal com tanto fervor que executam uma dama para que o marido se possa casar com outra? É certo que Henrique não é um marido vulgar. É o rei. O sol. Um Deus na terra. Mas eu conheço-o e a verdade é que Henrique não passa de um homem colocado no trono por outros, por meio de guerras, matanças e sede de poder. Esta é a verdade que conhecem e os degrada e o mesmo se passou com seus pais e com os pais de seus pais. Do mesmo modo que um molho picante não pode ocultar o sabor da carne podre, também as armadilhas da corte são incapazes de disfarçar os instintos básicos que governam o coração dos nobres ingleses.
Hoje, todos os que sobreviveram a essas matanças, sentam-se como abutres esfomeados sobre as carcaças dos caídos. Muitos pares de olhos, negros e brilhantes, observam, rapaces, o festim. Os haveres dos que foram condenados comigo – rendimentos e rendas, tapeçarias, roupas, móveis das casas ricas – serão disputados como carniça pelos seus bicos ávidos.
As famílias renegam os condenados, pois é insensato mostrar afecto pelos traidores, ainda que sejam do mesmo sangue. E sei que meu pai não é um homem insensato. Thomas Bolena nunca será confundido com um capitão que se recusa abandonar o navio afundado. Oh, não, nada disso. Dizem-me que no julgamento de Weston, Norris, Breyerton e Smeaton ajudou a condená-los por adultério com a sua própria filha. E diz-se também que se ofereceu para servir de testemunha no meu julgamento e no de George, mas que no fim o pouparam à indignidade. Julgo que se lá se encontrasse nos teria considerado culpados tal como o fizeram vinte e seis dos meus pares. Tudo porque meu pai aprecia demasiado o seu pescoço para poder amar traidores. Também não quero julgar-me melhor do que realmente sou. Meu pai nunca gostou de mim. Nem sequer me via, eu era apenas uma rapariga para utilizar, uma rapariga inteligente, com alguma beleza e ousadia e força de vontade próprias de um homem. Certamente o mortificou que sua filha mais nova se tivesse atrevido a arrebatar-lhe das mãos as rédeas e ousasse cavalgar o rápido alazão da sua vida, em direcção à glória e à desgraça. Nunca me amou.
Tenho de descrever o meu julgamento, pois fará parte da história e embora neste momento, seja perigoso para qualquer ser dar uma versão diferente da imposta por Henrique, um dia saber-se-á da infâmia deste tribunal e da grosseira injustiça por ele cometida. Os meus amigos compareceram perante os seus pares no dia 12 de Maio e foram todos considerados culpados de traição – por terem tido relações carnais com a rainha e por terem conspirado contra a vida do rei. Vão sofrer uma morte horrenda, castigo guardado apenas para os traidores e hereges. Três dias depois desta condenação foi a vez da minha.
Conduziram-me desde os meus aposentos na Torre Verde para o cinzento e antigo edifício onde se situa o salão do rei. Quando entrei, vi que se tratava de um vasto aposento, capaz de albergar as duas mil pessoas que já lá se encontravam para a grande ocasião que era o julgamento de uma rainha acusada de traição. Na sala a abarrotar de gente, encontravam-se, lado a lado, o alcaide de Londres e os seus edis, inúmeros cortesãos, vários embaixadores estrangeiros, com os seus escrivães acocorados ao lado, nobres rurais com as suas esposas, que certamente lhes teriam implorado vir a Londres para não perderem tal espetáculo, e uma chusma de populares para verem fazer justiça à Grande Prostituta que havia tanto tempo odiavam.
Abriram-se alas para me deixar passar. Fingindo um triunfo imaginário, endireitei os ombros e ergui o queixo, mais do que em qualquer outra ocasião. As minhas aias, excepto a senhora Seymour, apropriadamente ausente, mais pareciam pássaros de colorida plumagem. Porém elas, que sempre tinham formado um alegre bando em meu redor, estavam agora separadas, sob a protecção de suas famílias ou entre grupos de novos amigos.
Margaret Lee agarrava-se ao braço de Thomas Wyatt com uma estranha expressão que não era mais que um misto de alegria e desgosto pela recente libertação de seu irmão e pela minha omnipresente desgraça. Wyatt parecia profundamente triste e, em silêncio, agradeci-lhe ter-me oferecido este Diário, o amigo mais leal que tive em toda a minha vida.
Niniane colocou-se à minha vista, quando passei. E talvez influenciada por aquela ridícula ocasião, foi precisamente ela, o meu bobo, a única pessoa a quem falei em toda a multidão.
– Niniane – disse e detive-me junto a ela que, espantada, esboçou um malicioso sorriso e se aproximou mais de mim.
– Creio que querem dar-vos outro nome – murmurou.
– E que nome será? – perguntei.
– Rainha Ana Sem Cabeça, Majestade.
– Será um nome muito bem escolhido – disse eu, retribuindo-lhe o sorriso.
– Adoro-vos, senhora – disse. – O meu coração de bobo sentirá eternamente a vossa falta.
Prossegui o meu caminho. Ali, diante de mim, em duas filas junto à barra, envergando as vestes escarlates, encontravam-se os vinte e seis pares de Inglaterra, de expressão grave no rosto. Entre eles vi Henry Percy de Northumberland, pálido, encolhido e parecendo muito mais velho do que realmente era. À frente de todos eles, num estrado mais alto, sob um real dossel sentava-se, não o rei, pois não tivera estômago para tanto, mas meu tio Norfolk, inclinado ao peso de muitos colares de ouro, empunhando um enorme bastão e acompanhado pelo conde de Surrey e pelo lorde-chanceler AudIey.
Meu tio não perdeu tempo e leu com voz clara e imperturbável as acusações que me eram imputadas: que eu, a rainha, durante mais de três anos desrespeitara o meu casamento, guardando no coração maus sentimentos em relação ao rei e cedendo, todos os dias, aos meus caprichos e desejos carnais. Com falsidade e ânimo traiçoeiro, mediante palavras, beijos, carícias, presentes e vários incentivos inqualificáveis procurava os servidores do rei para com eles exercer actividades de adultério e concubinato.
Afirmou que meu irmão George se deixara seduzir por profundos beijos com a sua língua na minha boca e minha na dele e que conhecera carnalmente a própria irmã numa ligação incestuosa. Afirmou-se também que, com outros, eu teria conspirado para assassinar o rei, já que nunca o amara do fundo do meu coração, chegando a prometer casamento a um dos meus companheiros de cama, após a morte de Henrique. Foram fornecidas as datas e os locais os meus supostos mas terríveis delitos, de índole lasciva. Parece que os meus incontroláveis desejos me conduziam a frequentes e perigosas indiscrições. Recebia vários amantes numa só noite e, menos de um mês após o nascimento de Isabel e até mesmo durante a gravidez. Devo dizer que nem tudo era mentira – de facto, troçara da pessoa do rei, das suas roupas, ridicularizara as baladas que escrevera. Mas calculei que estivessem desesperados quando o consideraram prova de traição.
Depois de lidas as acusações, ergui-me para proferir a minha defesa, mas fui asperamente silenciada por meu tio. Não tinham sido permitidas testemunhas a meu favor. Este processo infame e irregular ofendeu de tal maneira os espectadores que houve uma agitação na sala seguida de gritos de ”Deixem-na falar!” e ”Deixem-na apresentar as provas!” Penso ter sido esse o momento mais doce que vivi como rainha e em que senti ter o apoio do povo. Não posso dizer que me amassem, mas era, sem dúvida, indigno de ver. Se a mulher do rei podia ser tratada daquele modo dentro de um tribunal, ficava demonstrado que qualquer pessoa abaixo dela poderia receber pior tratamento pois a justiça morrera certamente em Inglaterra.
Assim, contendo a voz furiosa com que desejava insultar aqueles vermes, limitei-me a declarar-me inocente de todas as acusações, pedindo a Deus que fosse minha testemunha. A seguir, Norfolk solicitou aos membros do tribunal que dessem o seu veredicto; como não poderia deixar de ser, um a um, declararam-me culpada. Vi como aquela simples palavra lhes saía dos lábios corrompidos, mas pouco me incomodou a sua repetição… excepto quando foi pronunciada por uma certa boca.
Henry Percy hesitou antes de pronunciar as sílabas que levariam à morte a única mulher que amara. Hesitou e, nesse momento desafiei-o olhando-o nos olhos. Porém, foi como uma luva atirada ao chão que, por medo, ninguém recolhe. Recusou o meu olhar, e pronunciou a palavra ”culpada” mais alto que todos os outros.
Norfolk bateu três vezes com o bastão branco no chão, fazendo o eco percorrer o salão, agora tão silencioso que se poderia ouvir o adejar das asas de uma pomba.
– Porque haveis ofendido o nosso rei e soberano, cometendo traição contra a sua pessoa, haveis merecido a morte e sereis queimada aqui, na Torre de Londres, ou decapitada, conforme aprouver ao rei.
Ergueu-se então um burburinho por entre a multidão. ”Não há direito!” ”Onde está o rei e a sua nova amante?” ”Onde está a justiça?” e outros impropérios contra aquele cobarde tribunal. Se os ânimos não se tivessem exaltado, eu poderia ter sido levada da sala sem pronunciar palavra, porém aquilo obrigou lorde duque de Norfolk a pesar a conveniência de me deixar falar ou de me remeter ao silêncio. Por fim concedeu-me a palavra.
Consciente de que, se alguma vez possuí dignidade era esse o momento de apelar para ela, olhei de frente para os meus acusadores e, sem que a voz me falhasse, declarei:
– Senhores! Sei que tendes consciência de me haver condenado por razões que nada têm com as provas que foram hoje trazidas à vossa presença. O meu único pecado contra o rei foi o ciúme e falta de humildade. Mas vós tendes de seguir o rei. Estou preparada para morrer, senhores, e apenas lamento que homens inocentes e leais a Henrique tenham perdido a vida por minha causa. – Depois voltei-me para a multidão, para os meus súbditos que se mantinham imóveis e silenciosos, para que me pudessem olhar o rosto que tantas vezes tinham aviltado, de modo a que vissem a minha inocência e pedi-lhes humildemente que rezassem por mim. Não deixei que ninguém me tocasse quando, com passo majestoso, saí do salão, ainda Rainha de Inglaterra.
Mais tarde, nos meus aposentos da prisão, lady Sommerville veio contar-me tristemente a enorme farsa que fora o julgamento de meu irmão. Disse-me que George se defendera com tanta graça e engenho que todos acreditavam que seria ilibado. Porém, parece que se deixou levar pela raiva e, saboreando aquele momento de desafio, fez a acusação pública de aquilo que o tinham proibido terminantemente de falar – a impotência de Henrique. Dizia-se que eu tinha declarado a minha cunhada, e ela a George, que o rei não tinha vigor nem força para o acto viril. Aquilo provocara tais murmúrios que meu tio tivera de repor a ordem. Mas, disse-me a boa senhora, aquele momento de desrespeito ofendeu de tal forma os lordes que custou a meu irmão a liberdade e a vida. Como castigo final, seremos mantidos isolados, sem o consolo um do outro, até à morte.
Por fim, contou-me como, ao terminar a sessão, lorde Norfolk pediu a todos os pares que se levantassem e todos obedeceram todos excepto um. Henry Percy continuou no seu lugar, prostrado e mortalmente enfermo. Foi levado do salão por quatro guardas, pois os outros lordes não tinham tempo a perder com fracos ou feridos.
Portanto agora, terei de enfrentar as chamas, ou se alguma recordaçãominha comover a generosidade de Henrique, o machado. Estou muito cansada e rezo para poder encontrar alguma paz num sono reconfortante, porém as esperanças desta desgraçada mulher em refugiar-se em doces sonhos, são elas próprias, um sonho impossível.

Afetuosamente,
Ana

Diário, 13 de Maio de 1536

ecuperei a lucidez, mas o mundo que vejo em meu redor é um local tão aterrador que me sinto tentada a regressar à loucura. Prenderam George, meu irmão, acusando-o de ser meu amante. Nós, incestuosos! Espanta-me tanto empenho da parte de Henrique, apenas para possuir essa mulher vulgar. Francis Weston e William Brereton são também acusados do mesmo delito e reuniram-se a Mark Smeaton e a Henry Norris na Torre. Até mesmo Thomas Wyatt e Richard Page foram presos por essa razão. Meu Deus, não posso permitir que estes bons homens estejam a sofrer pela loucura que foi a minha vida. A toda a hora suplico às minhas carcereiras que me informem sobre o meu destino, mas estas limitam-se a contar os mexericos que sabem me vão fazer sofrer. Dizem-me que, todas as noites, Henrique se desloca de barcaça à residência dos Carews, onde se aloja a senhora Seymour para aí se divertir e aguardar o meu julgamento e condenação à morte.
Roguei a lorde Kingston que leve as minhas cartas ao rei e ao secretário Cromwell, mas o alcaide recusa-se, dizendo que apenas poderá transmitir recados orais a partir da Torre. Sei que é fiel à princesa Maria, como anteriormente o foi a Catarina, de modo que não me conferirá favores que possam reabilitar-me. Tenho de encontrar um modo de comunicação com os meus acusadores, para que saibam que não me considerarei culpada desses delitos, nem de outros, provenientes de mentiras ou de corrupção e dizer-lhes também que nenhum homem honesto poderá declarar contra mim.
Nunca mais recebi uma palavra de meu pai ou tive notícias dele e não sei se foi igualmente acusado de crimes de traição e se encontra detido. Nem imagino se será um dos que me acusam. Com a desgraça que caiu sobre a cabeça da filha e do filho, qualquer homem se sentiria desanimado e morreria de vergonha. Não obstante, suspeito que meu pai, se não está implicado, já arranjou maneira de usar a nossa queda em seu proveito.
O pouco consolo que aqui encontro devo-o à sobrinha de lorde Kingston, a senhora Sommerville que veio integrar o número das minhas carcereiras. Esta senhora já não é muito jovem, nem é bonita, mas tem uns olhos calmos que parecem sossegar tudo em seu redor. Para irritação de seu tio e das outras senhoras trata-me com a delicadeza devida à rainha que ainda sou. Dou por mim a desejar os poucos momentos em que estamos sós, para falar com ela com sinceridade e sem receios e nessas ocasiões posso escrever-vos. Embora não me dê falsas esperanças acerca da minha libertação ou que seja ilibada das acusações que me fazem, oferece-me a esperança da felicidade no paraíso, para o caso de vir a morrer, pois jura não conhecer mulher melhor do que eu. Consola-me ainda de outras formas – lê-me as Escrituras, deixa-me falar da minha Elizabeth e conta-me histórias dos seus filhos. E, Diário, escova-me o cabelo, com todo o prazer. Esta pequena atenção faz-me por vezes chorar, pois fá-lo com toda a ternura, como dantes Henrique costumava pentear-me.
Já pensei em pedir à senhora Sommerville que me ajude a enviar as cartas para fora da Torre, mas não tive coragem. Acredito que não quereria recusar e um tal acto poderia pôr a sua vida em risco, por minha causa. Até os meus pedidos para me confessar ao arcebispo Cranmer têm sido cruelmente ignorados. Por vezes receio não voltar a ver um rosto bondoso e familiar.

Afetuosamente,
Ana

801

Diário, 2 de Maio de 1536

iário, encontro-me prisioneira na Torre de Londres. Chorai por mim, pois estou certamente perdida, acusada de adultério, que é o mesmo que traição. Na Inglaterra o adultério praticado por uma rainha é traição e a traição é punida com a morte. Nem sequer posso esperar um julgamento imparcial, nem que se contentem a enviar-me para um convento distante, pois Henrique quer-me morta. Mark Smeaton e Henry Norris, pobres rapazes, acusados de relações carnais com a rainha, estão também na Torre. Diz-se que confessaram ter-se deitado comigo. Claro que não o fizeram, pois são homens honestos e essa hedionda acusação é completamente falsa. Uma mentira. Tê-los-ão torturado para lhes arrancar essas confissões? Serei também torturada? Trata-se por certo de uma intriga de Cromwell. Ultimamente voltou-me as costas e é perfeitamente capaz de o fazer. Eu mesma assisti a como guiava o rei até à minha cama, fazendo-o percorrer o labirinto do seu divórcio de Catarina e da desavença com o Papa. Aqueles olhos brilhantes. Aquela boca cruel. Vi a sua expressão enquanto conduzia aos meus aposentos a maldita delegação. Em silêncio, deixou que fosse meu tio Norfolk a dar-me voz de prisão, mas a sua presença lançou uma sombra de desgraça sobre a minha cabeça. Em plena luz do dia, obrigaram-me a subir o rio numa rude barcaça para que todos vissem, sem a escolta de amigos ou cortesãos que me fossem fiéis, acompanhada apenas por horríveis inimigos e harpias. Lady Kingston, minha tia lady Bolena, a senhora Coffin, cujo nome tão bem lhe fica. Ficaram atrás de mim, onde não as pudesse ver, cravando-me os olhos no pescoço e sem pronunciarem uma única palavra que me desse alento. Senti que a sanidade me abandonava para se reunir com o remoinho da corrente do rio, deixando-me o cérebro vazio, privada de bom senso e razão. Ajudai-me, meu Deus! Parece-me que, ao chegar aqui, não me comportei como uma rainha. Ri, chorei e tremi descontroladamente. Depois da barcaça me deixar nos degraus da Torre, senti-me gelar à vista das húmidas paredes da prisão e, de tal modo que me faltaram as forças, que caí de joelhos. Lorde Kingston, o Guardião da Fortaleza veio receber-me, tomou-me o braço e disse-me uma palavra amável. Julgo que assim foi, pois pouco recordo dessa ocasião, exceto ter perguntado se seria encarcerada numa masmorra e lorde Kingston ter dito que não, que seria alojada nos meus antigos aposentos, naqueles em que ficara antes da minha coroação.
Também me lembro que, ao ser conduzida aos aposentos, vi um dos gordos corvos a saltar sobre a relva e soltei uma gargalhada. Mas, nesse momento, ouvi o canhão da Torre ribombar pelo Tamisa para anunciar a minha chegada e avistei o cadafalso de madeira, onde tinham lugar as execuções. Thomas More, pensei, o bom doutor More. Não pude conter as lágrimas amargas, ao lembrar-me que a sua cabeça rolara sobre a relva verde. Mestre Kingston conduziu-me até à porta da prisão e despediu-se. Agarrei-me a chorar ao seu braço. ”Morrerei sem julgamento?” Respondeu-me que até o súdito mais pobre tem direito à justiça. Soltei uma louca gargalhada sob o seu olhar compadecido. Pedi um espelho para ver a imagem de uma rainha caída em desgraça, mas não satisfizeram o meu desejo. Estou encurralada aqui. Encurralada com estas horríveis mulheres que me torturam dizendo-me que toda a Londres se alegrou e comemora nas ruas a minha prisão; que agora lady Maria, ou antes a princesa Maria tomará o lugar que lhe compete na linha da sucessão. Odeiam-me, mas servem-me com todas as atenções. Sei que foram avisadas de que deveriam recordar-se de tudo o que eu disser, para mais tarde poderem incriminar-me. Sei que estão à escuta mas não consigo conter-me e da minha boca sai como água de um poço, uma corrente contínua de impropérios e insultos aos meus inimigos, maldições contra Inglaterra, à qual desejo, se morrer aqui, sete anos de tempestades e pestes. Isabel, minha Isabel, que te fiz eu? Se sou traidora, tu serás apenas a filha de uma traidora. Perdeste por certo tua mãe, perdeste a tua futura coroa e talvez a tua vida… Só eu sou a culpada, só eu sou a culpada, só eu sou a culpada. Perdoa-me, minha querida. E minha mãe. Morrerá de desgosto. Morrerá como eu, que Jesus me ajude. Estou só e tenho tanto medo.

Ana

Diário, 6 de Fevereiro de 1536

ue dia tão triste. Morreu o meu querido Ptirkoy. Foi Henrique que me deu a notícia com a mesma indelicadeza com que meu tio Norfolk me participara a morte do rei. Rezava eu com o meu capelão Matthew Parker, quando Henrique entrou de rompante nos meus aposentos para me dizer que ia para Londres festejar a terça-feira de Entrudo e que desejava que eu ficasse em Greenwich. Implorei que me deixasse acompanhá-lo, pois Elizabeth estava alojada em Londres e desejava vê-la. Recusou o meu pedido e também não quis levar uma lista de medidas para várias toucas de seda que desejava que fossem feitas para a princesa. Declarou com toda a crueldade que ela não precisava de toucas tão finas e perguntou-me se eu não tinha mais nada que fazer com o meu tempo do que escrever listas tolas, de coisas que não tinham qualquer utilidade.
Irritei-me ao ouvir tais comentários acerca de nossa filha e deitei-lhe em cara que o seu amor inconsistente dava azo a que outros mostrassem abertamente a sua deslealdade. Até mesmo mestre Cromwell tirava a boina ao ouvir o nome de lady Maria. Henrique não respondeu a isto, pelo menos de modo satisfatório e fez menção de se ir embora. Porém peguei-lhe num braço e disse-lhe algumas verdades da sua nova amante, lady Jane.
– Está a brincar convosco, Henrique, tal como eu fiz. Afinal, imita os meus artifícios. Ouvi dizer que não aceitou a bolsa de soberanos de ouro que lhe haveis oferecido, não foi Henrique? Não é verdade que afirmou que sentiria a sua honra e virtude manchadas se aceitasse um tal presente sem ser vossa legítima esposa? Sereis tão cego que não possais ver que tem dois irmãos inteligentes que, através dela, buscam honrarias para si próprios?
– Contende essa língua viperina, senhora, para não ter de ser eu a remeter-vos ao silêncio.
– E como o faríeis, Henrique? Com o divórcio? Enviando-me para um convento?
– Não abuseis da minha paciência, Ana, que já pouca me resta. – Mesmo assim arranjei coragem para o enfrentar e olhei-o fixamente nos olhos.
– Nunca vos amei, Henrique. Nem uma única vez, nestes últimos dez anos. – A boca dele estremeceu, porém manteve o queixo firme enquanto eu lhe espicaçava o orgulho com um sorriso malicioso. – Haveis pensado que tinha sentido amor por vós? Claro que sim.
A cor subíu-lhe ao rosto gordo quando pronunciei estas falsas palavras, pois como sabeis, Diário, amei-o uma vez, antes de me ter entregado a ele. E em Calais, no Inverno a seguir. Porém, nesse momento não lhe dei a satisfação de falar desse amor.
– Ide ter com a vossa amada de cara de cavalo – gritei. – Possuí-a! Mas podeis retirar dos vossos pensamentos a ideia de que Ana Bolena alguma vez amou Sua Graciosa Majestade. Porque nunca tal aconteceu. Nunca! –
Ele fixou-me com o seu terrível olhar e, nesse momento, pensei que fosse erguer a mão para me matar com pancada.
– O vosso cão morreu – preferiu dizer. Depois sorriu. – Que pena, pois era certamente o vosso súdito mais leal.
Não cheguei a ver Henrique partir pois imediatamente as lágrimas cegaram-me. Lágrimas que teve a satisfação de saber ter sido o causador.

Afetuosamente,
Ana

Diário, 28 de Janeiro de 1536

assou-se aquilo que eu mais temia. Abortei o meu salvador, pois a carne ensanguentada que expeli do meu ventre, era certamente um varão.
A grande celebração pela morte de Catarina durara semanas. Henrique não permitiu o luto na corte, nem em público. Festas, bailes, representações, até missas foram ditas em sinal de alegria e os que amavam a rainha tiveram de lamentar em segredo a sua morte. Realizou-se uma justa, porém procurei sossego longe da ruidosa multidão e recolhi aos meus aposentos com Margaret Lee e Niniane, que nos divertiu cantando versos e canções de Chaucer.
De repente, ouvimos um ruído como se os soldados se tivessem aproximado da minha porta e, assustadas vimos meu tio Norfolk irromper pela calma da tarde com desagradáveis notícias. O rei jazia como morto no pátio, caído da montada durante a justa e esmagado pelo pesado corpo do cavalo! Senti a mão fria do medo apoderar-se dos meus membros, cabeça, ventre e toda a energia se escoou das minhas veias. Margaret afirma que fiquei com uma palidez de morte e tentou consolar-me. Porém Norfolk, como uma víbora maligna picou-me o coração com as suas duras palavras. Se Henrique morresse eu estaria perdida com toda a certeza, pois não havia ninguem leal a Elizabeth que apoiasse a sua sucessão ao trono. Se eu lutasse por ela e me declarasse regente, decerto se seguiriam grandes discórdias e uma guerra civil. Entretanto, já eu lamentava a súbita perda de Henrique, ao mesmo tempo que sentia um grande alívio com a morte do animal que tinha por marido. Logo a seguir Norfolk retirou-se sem se dar ao trabalho de fazer a devida reverência, pois já não me considerava sua rainha.
Aturdida, mortificada, atormentada por terríveis presságios comecei a tremer descontroladamente. Margaret e Niniane tentaram animar-me, para deter os tremores, consolar-me com palavras bondosas, mas tudo o que eu desejava era ter Elizabeth nos braços, pois o perigo rondava-nos como uma trupe sombria de macabros saltimbancos. Margaret retirou-se, prometendo que Elizabeth me seria entregue e que mandaria também vir alguns homens que me fossem leais.
Contudo, quando chegaram – Wyatt, Norris, Weston – trouxeram-me a notícia de que o rei estava vivo! De fato tinha estado inconsciente durante duas horas, mas voltara a montar o cavalo e desejava continuar a justa. Pois bem, recolhi-me ao leito por pura exaustão de espírito. Embora Niniane tenha conseguido provocar algumas gargalhadas apesar de tão perversas ocorrências, de novo empalideci e senti que as forças me faltavam. No dia em que o corpo de Catarina foi sepultado, o sangue correu entre as minhas coxas e o bebê morreu dentro do meu ventre. A parteira examinou o feto e declarou que parecia ser um varão. Disseram-no a Henrique que surgiu nos meus aposentos feito uma fúria ainda maior do que no dia em que Elizabeth nasceu.
– Vejo claramente que Deus não deseja dar-me filhos varões – afirmou num tom extremamente frio, mas sem erguer a voz. Respondi-lhe que não fora obra de Deus e que o nascimento prematuro tinha ocorrido depois de eu ter recebido a notícia da sua morte, brutalmente dada por Norfolk; porém nada o comoveu. Não levou em conta o meu estado de fraqueza, nem a minha perda, só a sua. Retirou-se do aposento sem se dignar olhar para trás, dizendo que falaria comigo quando me encontrasse recuperada.
Margaret Lee mantivera-se fielmente junto a mim e rompeu a chorar quando o rei saiu. Desejei poder acalmá-la dizendo-lhe que haveria de ter outros filhos, mas ela mostrou-se inconsolável e contou-me os seus receios. Toda a corte murmurava que Henrique afirmava agora ter sido seduzido por meio de feitiçaria praticada por mim e que o nosso casamento não tinha validade. Dizia que Deus lhe mostrara a verdade impedindo-o de ter filhos e que desejava desposar a virtuosa Jane Seymour. Feitiçaria! Como se eu fosse bruxa! As poções que usei para lhe mitigar as dores, a magia dos meus dedos que lhe aliviavam as dores de cabeça… Tudo isso acabaria por se voltar contra mim. Vi que o meu destino não era melhor que o de Catarina e o de Elizabeth seria igual ao de Maria. Vi-me repudiada, com uma filha bastarda, enviada para um lugar triste e distante, onde nem poderia receber o consolo e a visita de outras pessoas.
Senti as pernas fracas, o coração pesado. Recolhi ao leito, sem vontade de o abandonar. Que nos irá acontecer?

Afetuosamente,
Ana

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