Acusação de Adultério, Incesto e Traição

Segundo o escritor e historiador dos Tudor, Allison Weir, Thomas Cromwell conspirava pela queda de Ana, enquanto fingia uma enfermidade e detalhou a trama em 21 de abril de 1536. O biógrafo de Ana, Eric Ives, entre outros, acredita que a sua queda e execução foram projetados por Thomas Cromwell.

As conversas posteriores entre Chapuys e Cromwell indicam Cromwell como o instigador da conspiração para derrubar Ana, prova disto é vista na Crônica Espanhola e através de cartas escritas de Chapuys a Carlos V. Ana divergiu de Cromwell sobre a redistribuição das receitas da Igreja e sobre a política externa. Ela defendeu que as receitas fossem distribuídas para instituições beneficentes e educacionais, e ela favorecia uma aliança francesa. Cromwell insistia em encher cofres vazios do Rei, enquanto tomava um bocado para si mesmo, e preferia uma aliança imperial.

Por estas razões, sugere Ives, “Ana Bolena tornou-se uma grande ameça para Thomas Cromwell.” O biógrafo de Cromwell, John Schofield, por outro lado, alega que não houve luta pelo poder entre Ana e Cromwell e que “nenhum traço pode ser encontrado de uma conspiração de Cromwell contra Ana… Cronwell tornou-se envolvido no drama conjugal real somente quando Henrique ordenou que ele cuidasse do caso.” Cromwell não fabricou as acusações de adultério, embora ele e outros tenham usado isso para sustentar o caso legal de Henrique contra Ana. A historiadora Rehta Warnicke questiona se Cromwell poderia ter manipulado o rei em tal assunto. Henrique emitiu ele mesmo as instruções cruciais: os seus funcionários, incluindo Cromwell, deram desenvolvimento. O resultado, os historiadores concordam, foi uma farsa legal. A fim de fazê-la, o mestre Secretário Cromwell precisaria de provas suficientemente convincentes para sua condenação ou arriscava seu próprio cargo e, talvez, a vida.

No final de abril, um músico flamengo ao serviço de Ana chamado Mark Smeaton foi preso, torturado ou talvez prometida a liberdade. Ele inicialmente negou ser o amante da rainha, mas depois confessou. Outro cortesão, Henrique Norris, foi preso em 1º de maio, mas como ele era aristocrata, não poderia ser torturado. Antes de sua detenção, Norris foi tratado amavelmente pelo rei, que lhe ofereceu o seu próprio cavalo para usar na festa de Maio.

Ilustração de George Cruikshank de Ana Bolena lançando um lenço para Henrique Norris.

Parece provável que, durante as festividades o rei foi notificado da confissão de  Smeaton e logo em seguida os alegados conspiradores foram presos por ordem do rei. Norris foi preso no festival. Norris negou sua culpa e jurou que a Rainha era inocente. Ele também se recusou a testemunhar contra Ana Bolena e disse: “A rainha é uma mulher honesta” e que “preferiria morrer mil mortes do que acusar a rainha que, acredito na minha consciência, inocente.”
Uma das peças mais prejudiciais de provas contra Norris foi ouvida de uma conversa com Ana no fim de abril, quando ela o acusou de ir muitas vezes aos seus aposentos não para cortejar sua dama de honra Madge Shelton, mas a si mesma.

Sir Francis Weston foi preso dois dias depois, sob a mesma acusação. William Brereton, um criado da câmara privada do rei, também foi preso em razão de adultério. O último acusado foi o próprio irmão da rainha Ana, preso sob a acusação de incesto e traição, acusado de ter um relacionamento sexual com sua irmã.
George Bolena foi acusado de dois casos de incesto: novembro de 1535 em Whitehall, e no mês seguinte, em Eltham.
Em 2 de maio de 1536, Ana foi presa e levada para a Torre de Londres, este lugar sinistro que é ao mesmo tempo prisão de Estado e residência real.

Ana Bolena indo para a Torre

Na Torre, ela entrou em colapso, exigindo saber a localização de seu pai e “swete broder”, bem como as acusações contra ela. Vendo o abismo em que havia sido atirada ela pergunta: “Devo então morrer, sem que me façam justiça?”. Ao que o lugar-tenente da Torre responde: “Majestade, mesmo o mais pobre súdito do rei é tratado justamente.” Diante dessa declaração, Ana não se conteve e deixou escapar uma risada histérica.

Contudo, não a colocaram nas celas dos prisioneiros de Estado, mas sim no apartamento de gala, o mesmo onde três anos atrás esperou o momento de sua coroação, também em uma manhã de maio. Quatro dos acusados foram julgados em Westminster, em 12 de maio de 1536. Weston, Brereton e Norris publicament mantiveram a inocência e apenas o torturado Smeaton apoiou a coroa e se declarou culpado. Três dias depois, Ana e George Bolena foram julgados separadamente na Torre de Londres. Ela foi acusada de adultério, incesto e alta traição. Pelo Ato de Traição de Edward III, adultério por parte de uma rainha era uma forma de traição (presumivelmente por causa das implicações para a sucessão ao trono) para a qual a pena era enforcamento, estripação e esquartejamento para um homem e queima na fogueira para uma mulher.

Ilustração de Ana Bolena na Torre

Mas as acusações e especialmente a de adultério incestuoso, também foram projetadas para impugnar o seu caráter moral. A outra forma de traição alegada contra ela foi a de planejar a morte do rei com seus “amantes”, de modo que ela poderia se casar mais tarde com Henrique Norris.

O processo foi uma farsa, mas Ana se apresentou de cabeça erguida “como se estivesse ali para receber uma grande honra”, segundo uma das testemunhas. Seu irmão riu perante o tribunal. Henry Percy, antigo noivo de Ana, desmaiou diante da sentença que a considerava culpada.

Nenhuma das datas dos supostos encontros de Ana coincidem com o seu paradeiro, e algumas foram alegadas terem ocorrido quando ela estava no final de uma gravidez. Os historiadores veêm as acusações contra ela, que incluíram adultério e incesto, como convincentes.

Na corte, sua queda espantou a muitos; era esperada mas não tão cedo.