Os Brasões de Ana Bolena

Todos sabem que o brasão de Ana Bolena é um falcão branco e, seu lema, “A mais feliz”. Mas Ana tinha outros brasões antes do falcão que nós conhecemos hoje. Este artigo irá lhe mostrar os brasões de armas desconhecidos pertencentes a Ana Bolena.

Em um dos seus livros de horas, Ana escreveu: “Le temps Viendra.Je, Anne Boleyn”, que significa “O tempo virá. Eu, Ana Bolena”. Eric Ives nota que “entre as palavras ‘eu’ e “Anne”, existe uma pequena figura. Após um exame minucioso, foi concluído que esta era uma esfera armilar. É provável que este tenha sido o emblema de Ana Bolena antes do falcão branco”.

A esfera armilar é um instrumento astronômico, sendo um modelo da esfera celeste, usado para determinar retas e inclinações. O que isso significava no século XVI? Ives explica que as esferas armiliares eram identificados como uma pessoa constante no traço de caráter. Elizabeth, filha de Ana Bolena, tinha como lema “Semper Eadem”, que significa “Sempre a mesma”. Curiosamente, Elizabeth também usou a esfera armiliar como brasão. Será que isso expressava o apoio para com sua mãe? Só podemos imaginar.

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A verdade por trás do erro: Filme Elizabeth [1998]

Dirigido por Shekhar Kapur, Elizabeth, filme de 1998, é considerado pela crítica especializada como o maior épico já feito sobre a vida da monarca, que governou a Inglaterra entre 1558 e 1603. Vencedor do Globo de Ouro de melhor atriz para Cate Blanchett e indicado a outras seis categorias do Oscar, o longa aborda os primeiros anos do reinado da filha de Henrique VIII com Ana Bolena e sua luta para permanecer no trono inglês. É uma excelente produção, pois cria asas à imaginação do público sobre o possível relacionamento entre a jovem Elizabeth e Lorde Robert Dudley, além de estabelecer um parâmetro entre as ameaças de invasão impostas pela Espanha e França e as tramóias de Thomas Howard, IV Duque de Norfolk, para usurpar a coroa e assassinar sua prima. Entretanto, como de costume em diversos filmes que abordam temas históricos, Elizabeth não escapa à recíproca e transparece ao grande público alguns erros que merecem ser levados em consideração.

O primeiro deles consiste na cronológica sucessão ao título de Duque de Norfolk pelos membros da família Howard: na cena em que a Rainha Maria I convoca uma sessão particular em sua câmara para saber notícias acerca da rebelião contra sua autoridade, ela transparece seus agradecimentos a um jovem pelo qual ela chamou de Norfolk. Porém, a figura do Duque ali presente deveria ser a de um homem com cerca de 80 anos de idade, haja vista que foi o tio de Ana Bolena quem liderou o combate. O jovem presente no quarto possivelmente era o neto de Thomas, que ascendeu ao título pouco depois da morte de seu avô (sim, avô e neto compartilhavam o mesmo nome). Foi o III Duque de Norfolk e não o seu neto, quem providenciou a prisão de Elizabeth, sob acusação de que ela estaria aliada com Thomas Wyatt no processo de rebelião contra a Rainha.

Mais adiante, o espectador tem um vislumbre da romântica vida de Elizabeth em Hatfield até deparar-se com a figura de uma jovem aia correndo pelos campos para alertar à sua senhora de que esta fora acusada de ser a instigadora da guerra civil e que naquele instante uma comitiva, sob liderança do Conde Sussex, estava a caminho com uma ordem de prisão. A mulher em questão se trata de Catherine Champernowne, mais conhecida pelo seu nome de casada, Kat Ashley, interpretada no filme por Emily Mortimer. Kat cuidou da Princesa Elizabeth desde 1537 e tornar-se-ia uma de suas melhores amigas até 1565, ano de sua morte. Porém, a “Kat” do filme Elizabeth apresenta-se muito mais jovem do que deveria ser, como se fosse da mesma idade que sua senhora, desconsiderando o fato de que a verdadeira Catherine Champernowne era no mínimo 20 anos mais velha que Elizabeth.

No desenrolar da trama, uma sucessão de acontecimentos e personagens ganha vida, como a alegórica coroação de Elizabeth, feita de forma a referenciar o famoso quadro em que a nova Rainha traja um vestido amarelo ouro e ostenta em sua cabeça a coroa de Santo Eduardo e em suas mãos os dois cetros da soberana. Foi simplesmente perfeita, era como se a Elizabeth da pintura saltasse para o filme e mostrasse ao público toda a força de sua majestade. Mais em seguida um novo equívoco ganha destaque: o embaixador francês notifica a Elizabeth a proposta de matrimônio do Duque D’Anjou, quando na verdade o primeiro pretendente da Rainha fora o Arquiduque Carlos da Áustria. A Proposta de casamento com o Duque francês só veio a calhar quando as relações da Inglaterra com a casa de Habsburgo se deterioraram em 1568 e o filme Elizabeth compreende apenas cinco anos do reinado da mesma.

Ainda no que se refere a datas, outro aspecto confunde a cabeça do telespectador: o filme se passa em 1554, como é mostrado no começo da trama, mas a coroação de Elizabeth só ocorreu em janeiro de 1559. Isso mostra como as cenas avançam de forma rápida, com pouco ou quase nenhum esclarecimento sobre a cronologia subsequente. A cena que se segue à festa dada em homenagem à nova Rainha, mostrando uma relação sexual entre Elizabeth e seu amigo de Infância Robert Dudley é outro embaraço, pois não há como ter absoluta certeza de que os dois mantinham essa intimidade, apesar do falatório real que confirmava esse ponto de vista. Não é impossível que os dois tenham trocado alguns beijos e carícias, mais até aí nunca se poderá saber se houve de fato a cópula carnal. O mais provável é que ambos mantinham uma relação de amor cortês, bastante comum àquele período.

No tocante ao atrito entre Elizabeth e Marie de Guise, o filme acentua que a mãe de Mary Stuart só iria cessar a investida francesa contra a Inglaterra se a Rainha aceitasse o cortejo de seu sobrinho, o Duque D’Anjou. Isso por si só já é uma grande invenção, pois Marie morreu em 1560. Elizabeth e Henry D’Anjou só se conheceram apenas em 1568 (Elizabeth ainda desposaria o irmão do duque, Francisco D’ Anjou, em 1572). Também não há como provar de que estava envolvida no provável assassinato da viúva de Jaime V, como o filme induz a acreditar. Nesse processo Francis Walsinghan, que havia voltado da França quando da coroação de Elizabeth, ganhara destaque, mas sua participação nesse caso não condiz com os registros históricos. Ele fora nomeado por Lorde Willian Cecil para integrar a Câmara dos Comuns, representando a cidade de Banbury e com o passar dos anos, se tornou o principal conselheiro de Elizabeth.

Sobre Willian Cecil, consagrado I Barão de Burghley, não é verossímil o fato de que a Rainha o afastou do conselho para tomar suas próprias decisões políticas. Muito pelo contrário. Até a Morte de Burghley, em 1598, ele havia sido nomeado duas vezes Secretário de Estado e Tesoureiro em 1572. Também é infundada a tese de que Willian teria informado a Elizabeth do casamento de Robert com Amy Dudley. Ora, vejam só que grandiosa invenção. Elizabeth sempre soube que Robert era casado e conviveu com isso desde então. O início das hostilidades entre os dois deveu-se à suspeita de que Lorde Robert teria assassinado sua mulher para ficar com Elizabeth. Até hoje isso é um grande mistério para os historiadores.

Além desses, outros erros se tornam enfadonhos: a conspiração de Robert com o Embaixador espanhol para influenciar a Rainha a se casar com Felipe II, rei da Espanha; O corte Chanel, que foi inventado pela estilista no século XX, usado por uma das damas da Rainha; Elizabeth ter se consagrado virgem após cortar os cabelos e decidir que não mais se casaria. São esses erros que tornam o filme Elizabeth responsável por divulgar uma história fictícia acerca desta, que foi a monarca mais bem articulada da Inglaterra. Por outro lado, ele confere com a falta de experiência de Elizabeth para governar nos seus primeiros anos de gestão até resolver seus problemas e conscientizar-se de que era uma soberana. Apesar destes equívocos, o longa-metragem é recomendável a todos aqueles que se interessam pela dinastia Tudor, pois faz um fiel retrato do vestuário, modos e costumes da corte elizabetana, bem como de sua líder.

Artigo escrito por Renato Drummond.   

Veja mais algumas fotos do filme:



 


Itens pertencentes a Ana Bolena

"B" de Bolena

“B” de Bolena

Há muita curiosidade sobre o que aconteceu com os itens pertencentes a Ana após sua morte. Principalmente sobre o famoso colar de pérolas com a letra “B” de Bolena, que ela usava com tanto orgulho.

Hoje, infelizmente, é difícil definir claramente o que aconteceu as suas jóias e roupas, ou qualquer outro objeto que ela tenha usado; mas encontrei uma pista no livro de Antonia Fraser “As Seis Mulheres de Henrique VIII”. No capítulo dedicado a Catarina Parr, ela escreve:

“Além das roupas que ela encomendava, a rainha Catarina herdou uma vasta coleção de vestidos da falecida rainha Catarina Howard, guardados no castelo de Baynard (o tradicional depósito-guarda-roupa da rainha consorte). Isso, que para nós pode parecer macabro, era, na verdade, uma medida perfeitamente prática no século XVI, quando ricas túnicas eram bem valiosas.”

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