Cartas trocadas entre Catarina Parr e o rei Henrique VIII

Catarina Parr casou-se com o rei Henrique VIII em 12 de julho de 1543, em Hampton Court. Henrique foi seu terceiro marido, e embora Catarina não estivesse apaixonada por ele, ela fez de tudo para que seu casamento fosse bem-sucedido. Ela era, em todos os aspectos, admiravelmente adequada para a tarefa, tendo experiência na gestão de maridos doentes e temperamentais. Ela era inteligente e comprometida, e participou plenamente na vida da Corte de Henrique VIII.

Henrique e Catarina tornaram-se muito próximos. Ele se recusava a permitir que qualquer outra pessoa enfaixasse sua perna ulcerada, e fez dela Rainha Regente quando ele participou do cerco em Bologne em 1544. Esta carta foi escrita durante a ausência de seis semanas do rei, e seu tom é carinhoso e respeitoso.  Além de seu sucesso como sua sexta esposa, Catarina era uma madrasta que amava muito Maria, Elizabeth e o príncipe Eduardo. Consciente da sensibilidade do rei sobre as ameaças à sua autoridade, ela colocou em sua carta fortes doses de carinho e humildade.

Embora a distância do tempo e a conta dos dias não é longa e nem a ausência de sua majestade, ainda sim desejo sua presença, tão muito querida e amada por mim, o que não me deixará tranquila até que eu ouça algo de Sua Majestade. O tempo, portanto, parece-me muito longo e tenho grande desejo de saber como está Vossa Majestade depois de sua partida; eu desejo prosperidade e a saúde de Vossa Majestade mais do que a minha. E embora saiba que a ausência de Vossa Majestade é sempre  devida a grande necessidade, o amor e afeição me forçam a desejar a vossa presença. De outro lado o mesmo zelo e afeição me obrigam a estar sempre contente com aquilo que é o vosso prazer a vossa vontade. Assim, o amor me faz em tudo por parte a minha conveniência e o meu prazer, e aceitar com alegria a vontade e o prazer daquele a quem amo. Deus, que conhece todos os segredos, pode julgar que estas palavras não são somente escritas com tinta, mas  estão profundamente expressas em meu coração. Muito mais eu omito, sob pena de se pensar que estou me elogiando, ou almejando um agradecimento, coisa que não me importa, mas uma simples e clara reação do amor e zelo que eu carrego sobre Sua Majestade, proveniente da abundância do coração. Onde eu tenho de confessar que não desejo recomendações, tendo em tantas ocasiões feito o mesmo. Eu faço como conta Sua Majestade como faço com Deus por seus benefícios e presentes que têm sido amontoados sobre mim diariamente, reconhecendo-me como uma grande devedora a ele, não sendo capaz de recompensar o menor de seus benefícios, estado em que certamente irei morrer, ainda esperando a Sua aceitação graciosa de minha boa vontade. Mesmo tal confiança na gentileza de Vossa Majestade, sabendo eu que nunca ter feito meu dever como era necessário e conhecendo tão nobre príncipe, em cujas mãos eu encontrei e recebi tanto amor e bondade, em tais palavras que não posso expressar. Para que eu não seja muito entediante para Vossa Majestade, eu termino esta carta escrita [por minhas mãos], comprometendo-o para o governo do Senhor com uma longa e próspera vida aqui, depois dessa vida para desfrutar do reino de seus eleitos.

De Greenwich, pela humilde e obediente serva de Sua Majestade,

Catarina a Rainha.

Henrique deu uma resposta curta. Ele não gostava de escrever cartas – as famosas cartas escritas para Ana Bolena nasceram de um torvelinho de amor romântico.

“Queridíssima e amantíssima esposa…. estamos tão ocupados e temos tanto o que fazer em prever e cuidar de tudo em pessoa, que quase não há como termos um momento de lazer para fazer qualquer outras coisas… Nada mais para você desta vez, querida, por falta de tempo e por estarmos muito ocupados com as nossas atividades, exceto para rogarmos que dê em nosso nome nossas sinceras bênçãos a todos os nossos filhos”.

 

Bibliografia:
HACKETT, Francis. ‘Henrique VIII’. Tradução de Carlos Domingues. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores.
Letter of Katharine Parr to her husband, King Henry VIII, July 1544. Acesso em 06/09/2017.