No dia 26 de Agosto de 1533 Ana Bolena entrou em confinamento. A Rainha consorte de Henrique VIII, assim como muitas antes dela, se preparou para o parto entrando em um local que seria exclusivamente feminino durante as últimas semanas de sua gravidez.
Naquela época, era comum que a mulher ficasse em confinamento de quatro até seis semanas antes do parto – no entanto, sabemos que Elizabeth nasceria em 7 de Setembro, o que daria a Ana apenas duas semanas em confinamento. Isso significa que Ana Bolena pode ter errado em algumas semanas o período em que havia concebido, o que era muito comum para a época – sabemos que Ana estava certa de que estava grávida em fevereiro, quando ela revelou seu estado para Thomas Wyatt.
Nesse mesmo dia Ana compareceu a uma missa especial na Capela Real no Palácio de Greenwich, indo em procissão com suas damas para a grande câmara da Rainha, que havia ficado ponta poucas semanas antes. Antes de se retirar para a câmara, Ana e suas damas desfrutaram de um baquete com vinhos e especiarias, e o Lorde Camareiro de Ana rezou para que a Rainha tivesse um parto seguro.
O aposento de Ana estaria quente e escuro, seria equipado contra o ar fresco, uma vez que se pensava que era prejudicial a saúde, e velas foram acesas. Tudo era feito tendo em consideração o Livro Real escrito por Lady Margaret Beaufort quase 30 anos antes. Nele, a antiga matriarca Tudor especificava que o quarto deveria ser acarpetado, ter paredes, tetos se janelas cobertas com tapeçarias azuis que tivessem imagens calmas e românticas, fosse mobiliado com uma cama e m catre para a Rainha montados perto do fogo e longe do ar frio; esse mesmo mobiliário deveria ser de cetim vermelho e bordado com coroas e ouro e o brasão da rainha; deveria ter um altar, um armário revestido de tapeçaria para abrigar os equipamentos para o parto e ter um fonte de água caso o bebê nascesse doente e ter que ser batizado rapidamente e ter, em exposição ao longo do quarto, placas de ouro e prata para que a Rainha e seu bebê fossem cercados de símbolos de sua riqueza e status.
David Starkey descreve como os aposentos de Ana Bolena teriam sido preparados para o nascimento iminente em seu livro “Elizabeth”:
“As paredes e os tetos estavam cobertos por tiras de arras – isto é, preciosa tapeçaria tecida com fios de ouro ou prata – e o piso densamente revestido de tapetes ricos. As arras foram deixadas soltas em uma única janela, de modo que a rainha pudesse pedir por um pouco de luz e ar, embora isso em geral fosse considerado desaconselhável. Precauções foram tomadas, também, sobre o design das tapeçarias. Tapeçaria figurativa, com imagens humanas ou animais eram descartadas. O medo era que isso pudesse provocar fantasias na mente da Rainha, o que poderia levar a criança a se deformar. Em vez disso, desenhos simples e repetitivos foram preferidos. A cama ricamente pendurada e com dossel da rainha deveriam combinar ou fazerem par com as cortinas.
Carpinteiros e marceneiros prepararam o local pela primeira vez, enquadrando um teto falso na câmara. Então os oficiais do guarda-roupa se mudaram para arrumar e arrumar a tapeçaria e os tapetes. No último minuto, o prato de ouro e prata fora trazido da Casa das Joias. Havia xícaras e tigelas para colocar no armário e crucifixos, castiçais e imagens para o altar. O resultado foi um cruzamento entre uma capela e uma cela luxuosamente acolchoada ”.
Acreditava-se que a câmara protegeria o bebê dos espíritos malignos quando ele chegasse ao mundo – além disso, a mulher deveria tirar todos os tipos de presilhas, cordões, fivelas, anéis e nós que pudessem atrapalhar o parto, e amuletos, relíquias de santos e ervas eram utilizadas para apressar o parto.
Apesar da palavra ‘confinamento’, Ana não ficava sozinha em sua câmara. O confinamento era uma ocasião social, com mulheres escolhidas à dedo na corte, assim como as parentes femininas mais próximas da Rainha. Uma vez que o trabalho de parto começasse, suas damas imediatamente entrariam em ação, preparando um caudilho para lhe dar força durante o trabalho de parto, além de ajudar a parteira a levar a mãe e a criança com segurança ao parto.
Pode-se imaginar quão emocionante esse momento foi para Henrique Ana, enquanto aguardavam ansiosamente o dia em que Ana daria à luz ao tão desejado filho e herdeiro. E apesar do fato de ela ter dado à luz uma menina, eles conseguiram conceber um dos maiores monarcas da Inglaterra.
Bibliografia:
Anne Boleyn Enters Confinement, August 26, 1533. Acesso em 23/07/2018. Acesso em 23/07/2018.
FENTON, Charlie. 26th August 1533 – Anne Boleyn Goes Into Confinement. Acesso em 23/07/2018.
RIDGWAY, Claire. 26 August 1533 – Queen Anne Boleyn prepares for childbirth. Acesso em 23/07/2018.
RIDGWAY, Claire. 26 August 1533 – Queen Anne Boleyn Took to her Chamber. Acesso em 23/07/2018.
Boullan - Tudo sobre Ana Bolena e a Era Tudor 