A “Crônica Espanhola” e sua influência em Catarina Howard

Depois de ter sido executada em 13 de fevereiro de 1542, Catarina Howard passou a viver na ficção. O interesse pela vida desta jovem rainha começou quase imediatamente, assim como as tentativas de reescrever a sua história – uma tarefa realizada por um comerciante espanhol que morava na Londres dos Tudor. Seu conto, que incluiu e possivelmente inventou grande parte da história que conhecemos de Catarina Howard, estava cheio de erros e fatos históricos – como nomes e datas e incorretas – mas mesmo assim, mostrou-se extremamente influente.

Esse registro, apelidado de “The Spanish Chronicle”, já começa errado quando o autor – cuja identidade ainda é discutida – diz que Catarina foi a quarta esposa de Henrique VIII (e não a quinta). O cronista escreveu:

“O rei não teve esposa que o fizesse gastar tanto dinheiro em vestido e jóias, e todos os dias tinha um novo capricho. Ela era a mais bonita de suas esposas, e também a mais vertiginosa. O diabo, que nunca está ocioso, colocou no coração da rainha se apaixonar por um cavalheiro que, antes do casamento do rei com ela, estava muito apaixonado por ela, que era bem amada por ele”.

Quando esse caso de adultério foi descoberto, Catarina foi interrogada por Thomas Cromwell (executado anos antes), e Catarina e seu amante foram executados no mesmo dia (na verdade, Culpeper foi executado dois meses antes de Catarina). No andaime, a jovem rainha teria dito:

“Irmãos, pela jornada sobre a qual estou vinculada eu não prejudiquei o Rei, mas é verdade que, muito antes do rei me levar, amei Culpeper, e eu queria que Deus tivesse feito o que desejasse, pois no momento em que o rei queria me levar, ele me pediu para dizer que eu estava comprometida com ele. Se eu tivesse feito com ele me avisou, eu não deveria morrer esta morte, e nem ele. Eu preferiria que ele fosse um marido do que amante, mas o pecado me cegou e a ganância da grandeza, são minha culpa e meu sofrimento, e minha grande tristeza é que Culpeper tenha que morrer por mim […] Morro uma rainha, mas preferiria morrer esposa de Culpeper. Deus tenha misericórdia de minha alma. Boas pessoas, peço que rezem por mim”.

Catarina nunca falou essas palavras – tanto ela quanto Rochford, que foi executada logo depois, fizeram um discurso padrão, admitindo sua culpa perante a lei e pedindo a Deus que tivesse misericórdia de sua alma.

Escrita por um soldado ou comerciante espanhol, os erros fragrantes e adornos improváveis foram apontados, mas a questão permanece sobre a forma com que algumas histórias podem ter sido originadas – a tortura do músico Mark Smeaton com cordas amarradas em sua cabeça, por exemplo, era desconhecida no contexto inglês, mas muito usada por criminosos saqueadores, muitos deles espanhóis.

Bibliografia:
BAXTER, Boswell. Did Katherine Howard Say That She Would Rather Die the Wife of Thomas Culpeper?. Acesso em 21 de Julho de 2017.
RUSSEL, Gareth. Parthenope and Iphigenia: The Posthumous Reputations of Queen Catherine Howard. Acesso em 21 de Julho de 2017.

Deixe um comentário