O mistério da segunda gravidez da Rainha Ana Bolena

Henrique VIII e Ana Bolena, por Friedrich Pecht,

Na maioria das biografias recentes, a segunda gravidez de Ana Bolena ocupa no máximo alguns parágrafos. Eric Ives e Davis Loades concluem que terminou em um aborto, Alison Weir afirma que ‘ou era natimorto ou morreu logo após o nascimento’, Antonia Fraser sugere que ‘o fim mais provável foi um natimorto: provavelmente um mês adiantado’, David Starkey resume afirmando que ‘terminou em aborto ou nascimento prematuro’ e Paul Firedmann, escrevendo no final do século XIX conclui que ‘Ana tinha se enganado sobre sua condição’ e que nunca tinha estado grávida. Somente Retha Warnicke faz algumas tentativas de desvendar os segredos que envolvem os eventos do verão do ano de 1534.

O natal de 1533 em Greenwich foi animado. John Husse informou que o rei mantinha uma corte grande e alegre. No dia de Ano Novo houve a habitual troca de presentes e a rainha presenteou o rei com um fonte de ouro decorada com rubis, pérolas e diamaentes, onde tinha três mulheres nuas forjadas de ouro cujas tetas esguichavam água. Retha Warnicke acredita que o presente de Ana ‘deve ser caracterizado como um símbolo de fertilidade’. Se Ana estava insinuando sua condição, podemos então supor que ela engravidou por volta de novembro de 1533.

Em 5 de Janeiro, Henrique elogiou sua esposa em uma missiva aos príncipes alemães. Ele aprovava sua ‘sobriedade, sua castidade, sua humildade, sua sabedoria’, ‘suas boas maneiras louváveis, sua aptidão para a procriação de filhos, assim como outras boas qualidades infinitas’. Parecia que Henrique já estava ciente de que sua esposa estava grávida de novo.

Em 23 de Janeiro de 1534, fontes imperiais tinham sido informadas de que a Rainha Ana estava mais uma vez grávida. Em 28 de Janeiro Eustace Chapuys já estava ciente da condição de Ana e em 29 de Janeiro foi observado que ‘o rei e a rainha estão alegres’. Em Fevereiro, Henrique se reuniu com Chapuys e confirmou os rumores da gravidez da rainha. Em 27 de Abril, George Taylor escreveu a Lady Lisle que o rei e rainha estavam de boa saúde, e que Ana estava com uma ‘barriga considerável’. Em Abril de 1534 a gravidez era de conhecimento comum. O rei, confiante e radiante, espera um príncipe e encomenda a seu ourives, Cornelius Hayes, um berço de prata.

Ao mesmo tempo, uma medalha foi feita para comemorar o nascimento antecipado do herdeiro. Com o retrato de Ana e o lema ‘The moost Happi. Anno 1534’, muitas cópias não foram feitas, pois o bebê não sobreviveu, mas o protótipo ainda sobrevive e está armazenado no Museu Britânico.

No início de Junho, Henrique estava no meio do planejamento de uma viagem para Calais, para se encontrar com Francisco I. A viagem estava programada para ocorrer em 20 de Agosto ou alguns dias depois. No entanto, em 2 de Julho Henrique deixa Ana em Hampton Court e convoca Thomas Cromwell e o Duque de Norfolk para encontrá-lo em 5 de Julho. Foi tomada a decisão de enviar o irmão da rainha, George Bolena, ‘com toda a velocidade’ para a França a fim de adiar a reunião entre Henrique e Francisco por conta da gravidez avançada da rainha e o seu desejo de ter seu marido, o rei, ao seu lado naquele momento.

Parece muito provável que a reunião foi adiada porque em algum momento entre 26 de Junho e 2 de Julho o desastre aconteceu – Ana deu à luz a um bebê natimorto. Sarah Morris e Natalie Grueninger sugerem que Henrique não era ‘capaz de encarar Francisco, que já era pai de três filhos saudáveis’.

John Husee escreveu que o rei estava no Palácio de Wooking. O rei estava planejando visitar a rainha Elizabeth em Eltham Palace antes de ver a rainha, onde eles se encontrariam em algum momento no final de Julho ou início de agosto. O rei e a rainha estavam separados por mais de um mês, seu mais longo período de separação desde 1528, quando Ana se afastou da corte devido à chegada do Cardeal Campeggio.

Só foi em setembro de 1534 que Chapuys relatou que Ana não teria um bebê, afinal de contas. Ao mesmo tempo, ele informa o rumor de Henrique duvidava que a rainha sequer tivesse ficado grávida. J. Dewhurst sugere que Ana poderia ter sofrido de um caso de pseudociese ou falsa gravidez, uma condição em que a mulher acredita que está carregando um bebê e que mostra sinais de gravidez, mesmo não estando realmente grávida.

Eric Ives afirma que a perda do bebê ‘foi um aborto espontâneo’. Se Ana tivesse ficado grávida em novembro de 1533, no início de julho ela teria cerca de 8 meses. Em termos modernos, o aborto é geralmente definido como a perda de um bebê antes de 20-24 semanas, e a morte de um feto aos oito meses de gestação é referido como natimorto. Neste caso, a mãe ainda precisa passar por trabalho de parto da mesma forma que as mães com um bebê vivo.

Parece provável que Ana entrou em trabalho de parto prematuro em algum momento entre 26 de Junho e 2 de Julho. Não existem registros sobre qualquer confinamento da rainha, e isso deixa em aberto a possibilidade que a perda foi tão devastadora e prejudicial que tudo sobre o incidente foi destruído.

A menos que alguém tenha experimentado tal desgosto, é difícil imaginar a dor física e emocional que Ana deve ter sentido. O bebê estaria bem formado e o sexo determinável, embora os detalhes não tenham sido registrados. O rei deixou Hampton Court com pressa e abandonou sua esposa.
Teria sido a perda de um herdeiro o motivo de sua separação tão prolongada e atípica? O silêncio de um berço de prata real talvez fosse demais para um rei suportar.

Este evento deve ter trazido ao rei as lembranças dos abortos de Catarina de Aragão, e pode ter semeado uma dúvida em sua mente. Ana tinha prometido ao rei filhos e herdeiros, mas só tinha entregue uma filha e um bebê natimorto. Aos olhos do rei, ela falharam com ele e, com as inseguranças de Henrique despertas não havia espaço para novas decepções.

Traduzido do artigo ‘The Mystery of Queen Anne Boleyn’s Second Pregnancy‘ escrito por Natalie Grueninger.

8 comentários sobre “O mistério da segunda gravidez da Rainha Ana Bolena

  1. Eu acho que Ana Bolena é uma das mulheres injustiçadas da história, assim como Maria Antonieta.

  2. Eu li num dos artigos anteriores que a terceira gravidez possivelmente também foi uma gravidez psicológica… A primeira gravidez de Ana Bolena foi um sucesso, nasceu uma criança perfeitamente saudável que viveria por mais de cinco décadas, ela tinha tudo para gerar crianças tão saudáveis quanto! Acho que o ambiente influenciou bastante em tais condições, visto que a pobre mulher vivia pressionada para gerar uma criança! Sem dúvidas, muito triste, e, ironicamente, a história se repete. Imagino se ela, em algum momento, lembrou de Catarina ao se sentir como ela.

    • É possível, e também existe uma teoria de que o sangue de Henrique seria incompatível com o das outras esposas. Assim, a primeira gravideez teria dado certo, mas as outras seriam bem mais difíceis.

      O sangue do Rei

  3. Coitada eles desvalorizam a mulher só por nao conseguir ter um filho, ainda tinha que ser homem pra validar a Rainha. Acho triste a história da Ana e das demais mulheres da época.

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